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MUSEU-BIBLIOTECA INAUGURADO EM CAVIÃO
Não queremos deixar aqui de assinalar a inauguração, a 11 de Dezembro de 2010, do Museu-Biblioteca Dr. Manuel Luciano da Silva, em Cavião, concelho de Vale de Cambra (distrito de Aveiro), em ligação com a Associação do mesmo nome.
Trata-se de um projecto algo quixotesco financiado localmente por um mecenas - o comendador Álvaro Leite - e que recebe o nome de outro ilustre filho da terra, o Dr. Manuel Luciano da Silva, emigrante nos Estados Unidos da América e médico de profissão, que desde os anos 60 do século XX tem tentado provar, através das inscrições da famosa pedra de Dighton (conservada num museu do Estado norte-americano do Massachussets), que foram portugueses os "descobridores" da América (v. http://noticiasdebustos.blogspot.com/2010/09/pedra-de-dighton.html ).
Acresce que, nos últimos anos, o mesmo médico tem também vindo a abraçar a tese de Mascarenhas Barreto de que Cristóvão Colombo era português. Não é, pois, de estranhar que tenha designado para director do seu Museu-Biblioteca o conhecido jornalista Pedro Laranjeira, que recentemente escreveu um livro de divulgação dessa mesma tese "O alentejano que descobriu a América", do qual já aqui demos notícia e tem vindo a colher assinalável êxito junto do "grande público" a que se destina.(v. ARS CURATOR (15): Discovering America in crisis! What crisis? ). Para este autor, "é hoje evidente que o tecelão genovês Cristoforo Colombo nunca poderia ter sido o mais famoso navegador de todos os tempos. Estamos perante duas personalidades diferentes, ambas, aliás, documentadas, mas tudo indicando que o Almirante foi um nobre português, primogénito de D. Fernando Duque de Beja e de Isabel Gonçalves Zarco, filha do descobridor da Madeira e Porto Santo, João Gonçalves Zarco".
A tese em causa, ainda que particularmente sedutora para os portugueses enquanto povo, não deixa de ser polémica - e, diga-se em abono da verdade, não tem tido impacto nos meios académicos, talvez por desconfiança de um nacionalismo serôdio alheio à cientificidade pretendida pelos cultores da Nouvelle Histoire. Ora, como escrevemos anteriormente, por certo que, como observou Karl Popper, "(...) não pode haver história do «passado tal como ocorreu na realidade», só pode haver interpretações históricas e nenhuma delas definitiva (...)", mas isso não impede que se deva tentar a demanda do Graal, objectivo quiçá quimérico, mas que nos faz trilhar caminhos de descoberta e da nobre procura da verdade.
Do meio universitário, que se esperaria estivesse no centro do furacão (ou seja, promovendo o debate), parece erguer-se um muro de silêncio...
Porém, o novo Museu-Biblioteca está aí e não pode ser ignorado: debater seriamente a questão é uma tarefa exigente mas necessária, seja para confirmar ou infirmar a tese em causa.
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