O REGRESSO DE IVO POGORELICH
Ivo Pogorelich (Belgrado, 1958-), pianista sublime, e sem dúvida um dos nossos eleitos para o Panteão dos grandes intérpretes, actua hoje no Porto, mais propriamente na Sala Suggia da Casa da Música, pelas 19h30. Afastado dos palcos nos últimos anos, devido à doença terminal da sua professora e esposa, regressou agora a Portugal (actuou há dias na Fundação Gulbenkian) depois de o termos visto nos anos 80. É, pois uma oportunidade a não perder.
Desiludam-se aqueles que esperam ver um pianista acrobático, que coloca o brilhantismo da execução como prioridade absoluta (frequentemente em detrimento da obra tocada). Não, o que faz de Pogorelich um ser único é a sua extrema sensibilidade artística aliada a um pianismo rigoroso do mais alto nível técnico, que visa projectar as qualidades musicais da composição, ao invés de procurar colocar-se a si mesmo em evidência, mas sem abdicar da sua própria forma de expressão.
Não nos esquecemos que só quando ouvimos a sua gravação (na Deutsche Grammophon) nos apercebemos da sublimidade de “Gaspard de la Nuit” de Maurice Ravel, obra que julgáramos dispensável através da interpretação (para nós, anódina) de Sequeira Costa… Mas também o seu Brahms tem o “toque de Midas”, e que dizer dos seus J.S. Bach, de D. Scarlatti, de Chopin, etc. … e Tschaikovski, com o qual se deu a conhecer ao mundo… tocando divinalmente o concerto n.º 1, com Claudio Abbado no seu melhor a dirigir a London Symphomy Orchestra, e que permanece para nós a mais sedutora das gravações realizadas até à data (sim, consideramo-la do ponto de vista da musicalidade intrínseca superior às realizações de Horowitz, Sviatoslav Richter, Alexis Weissenberg e Martha Argerich, para só falar dos melhores…), porquanto nela se alia a quintessência da clareza e doçura do som, e um perfeito diálogo entre solista e orquestra, sem correrias desnecessárias atropelos das notas, numa perfeita articulação controlada dos “pianissimos” e dos “fortissimos " característicos da obra, entrelaçados por uma filigrana de davincianos "sfumatos" que evitam os "solavancos".
Programa:
Ludwig van Beethoven: Sonatas, op.78 e op.111
Johannes Brahms: Intermezzo op.118, n.º 2
Sergei Rachmaninoff: Sonata para piano, n.º 2
Nota biográfica e discografia em: http://www.cosmopolis.ch/english/cosmo4/pogorelich.htm
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